quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Uma história sobre o desamor, ah, o desamor

      Ela cheirava a jujuba. Aquele perfume exalava tanto que eu podia sentir  sua chegada a quilômetros de distância, e aos pouquinhos eu podia ouvir sua voz baixinha sempre cantarolante. Ela parecia sempre feliz mas com um quê de não-sei-o-que que até hoje não sei o que é. E talvez nem ela mesma saiba.
    Não só seu perfume e suas cores são doces, mas também seu jeito. Tão doce que às vezes me faz enjoar, mas na TPM fica tão azeda que eu prefiria um equilíbrio disso tudo. Mas cadê que ela consegue? Ou é 8 ou 80.
   Ela só sabe me chamar de chato, irritante. Mas não tem como ser simpático quando a pessoa liga oito vezes às 5h da manhã "só pra te perturbar". Ela é perturbada e não tem outra explicação. E quando fica na dela, calada, eu fico preocupado. Ela fala demais, então quando ela some, desconfio. No silêncio é que se encontra o problema...
   Enquanto as outras meninas se distraem com "50 tons de cinza", ela se apaixona por sabe-se lá quem de uma coisa que nunca ouvi falar e reclama da enrolação do livro da Clarice Lispector. "De complicada já basta eu", ela diz em tom reflexivo e eu tenho que concordar. E por que ela não pode ser que nem as outras moças? Por que ela não pode ser uma pessoa normal, falar e agir como uma pessoa normal, ao invés de ser uma pessoa desconexa? Mas é como diz a música, talvez uma garota estranha faça você morrer por uma noite, ou de uma vez... E se ela fosse normal, ela não seria o motivo da minha causa mortis. Ou vida.
   E daí que não concordamos em nada? E daí que parecemos cão e gato? E daí que somos parecidos? Até que é divertido quando deitamos com os dedos dos pés entrelaçados e ela faz um monte de planos impossíveis, mas lindos. E me abraça de repente, faz cafuné e apoia sua cabeça em meu ombro enquanto me conta o seu dia. E olha pra cima quando fala algo romântico. E mexe freneticamente no cabelo, meu Deus, como ela mexe no cabelo, e ri do próprio nervosismo. E dá aquele sorriso do qual ela morre de vergonha. E sorri com mais vontade quando percebe que observo sua covinha esquerda. E diante disso tudo, eu sorrio também.
   E é nesse descompasso acelerado que a gente constrói o nosso (des)amor. Nossa história parece filme, roteiro mal definido. Sem verba para se transformar num curta, que dirá num longa bem sucedido. Acho que nem eu nem ela conseguiríamos arcar com todas as despesas e transformar esse enredo em amor. Ela não sabe amar e eu muito menos. Mas a gente tenta, a gente vive e faz o que dá, apesar de todas as diferenças e igualdades. E se não der certo? Qualquer coisa, a gente divide aquele sorvete de flocos que ela adora e finge que a vida é isso aí, doce que só (ela).

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