segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Eu vi de longe.

    E lá se vão 4 e uns dias. São 4 sem seus conselhos, seus abraços, seus apertões, seus “bom dia”, seu ombro amigo, suas ligações na madrugada, seus planos pro futuro. São 4 sem te ver pelo menos um dia na semana, sem dividir o chocolate, sem rir sem parar de qualquer coisa sem graça, sem pedir pra dormir no meu sofá, sem me livrar das furadas, sem as voltas na madrugada. São 4 sem contar que ganhei uma irmã, que nem tudo dá certo na vida, mas que na calma, as coisas se ajeitam. São 4 sem você saber que tranquei a faculdade e que voltei, que sou adulta e responsável, que trabalho e me atrapalho, e que não sou tão responsável assim. São 4 sem beber demais na madrugada, comer demais, falar demais, rir demais, sofrer demais. São 4 sem as tardes olhando o mar, sem as conversas no meio fio, sem o sol na cara e a bochecha corando. São 4 sem saber.
    São 4 de 50 centavos economizados, de copos d’água que nunca passaram do portão e de “me liga quando chegar” que nunca foram ditos. São 4 de biscoitos que nunca saíram do pacote, de planos que ficaram pra outra vida e do sofá que nunca foi desarrumado. São 4 sem “parabéns” e 3 para 23, daí eu me pergunto que graça tem esses 23 se já se passaram 4 vezes as 4 estações, todas sem tanta cor assim.
    São 4 sem e foram quase 4 com, são 03:05 da manhã e eu me pergunto se algo nisso faz sentido. Se seriam 4 de abraços, 4 corações, se seriam mais 4 de amizade ou se a gente não se perderia no caminho e nas voltas que a vida dá, mas meu coração me diz que não, e que na verdade não é. Que cada linha desses versos, você escreveu comigo, que nesses 4 anos sem você, você está em mim, e que a cada dia, você me fortalece. E que há 4 anos, o significado de anjo da guarda ganhou um novo sentido.


Mas, ah, meu bem. Saudade? Saudade é pra quem tem. E eu tenho. 

domingo, 1 de dezembro de 2013

Gravity

     Engraçado como algumas coisas que nos dizem numa conversa informal ficam marcadas a ponto de remoermos isso durante muito tempo. A gente pensa, repensa, volta a pensar e se pergunta se existe alguma verdade no que foi dito e chegamos a duvidar de nós mesmos. Ou absorvemos o comentário e deixamos pra lá. Só que esse tanto de tempo, pra mim, ainda não acabou.
    Ela vivia repetindo que eu era solitário e que vivia como um homem que não conseguira amar ninguém além de si mesmo. Que até a minha "tristeza solidária" era egoísta e que qualquer sentimento meu, tinha a ver exclusivamente comigo. Eu ria e ignorava, mas confesso que tempos depois eu pensei: será?
   Eu nunca fui de sorrir muito, mas rio bastante até. Talvez socialmente, talvez pelo calor do momento, mas muitas vezes me pergunto “que diabos estou fazendo aqui?”. As pessoas acham graça até demais de coisas que eu, muitas vezes, acho irrelevantes, e talvez o que eu ache graça, quase ninguém entenda e assim caminha a humanidade. Muitas vezes me vejo num grupo de amigos e sinto como se tivesse uma visão à parte do grupo: eu sempre destacado da massa. Não que eu não consiga me integrar, eu tenho carisma, sei conversar e sei quando me calar também, mas não acho que eu me encaixe em algum lugar. Nunca me encaixei em lugar algum.
   Apego é uma coisa abstrata: dizem que homens bons não se apegam a nada material, pois nada se leva desse plano. Então eu me pergunto: por que trabalham tanto? Viram noites fumando em varandas, suando frio e pensando no dia de amanhã, sendo que não se sabe se existirá um amanhã e o que o destino lhes reserva. E sonham em ter um carro, sonham em ter uma casa, sonham em pagar as contas. E outros tantos ficam insones pensando numa forma de ganhar mais dinheiro; trocam de carro, compram mansões e sonegam os impostos. E eu, definitivamente, não me encaixo nisso. Nem na rotina, nem no supérfluo.
   Talvez ela esteja certa. Eu nunca amei e isso me dói. Talvez seja a tal dor egoísta da qual ela me falou, porque eu penso nos relacionamentos que tive, e ainda sim, não amei ninguém. Apego emocional nunca foi o meu forte, e enquanto minhas namoradas se descabelavam aos prantos em frente ao meu portão, eu as confortava racionalmente, e sinceramente, não entendia o porquê de tanto sofrimento. Eu sabia que depois de um tempo elas iam se recuperar e encontrariam um homem melhor. Talvez não um homem melhor, mas um homem diferente, um homem que iria lhes dar tudo que eu não pude. E que, sinceramente, eu não quis. Talvez nesse ponto eu não seja tão egoísta, já que não se pode dar o que não se tem.
   Como um homem que nunca amou pôde deixar um amor em cada estação, eu não sei, mas é assim que eu me sinto. Gravo seus rostos acompanhados de um momento feliz, é assim que me recordo de cada uma. Posso ter muitos defeitos, posso não sorrir tão facilmente, mas uma qualidade eu tenho: eu fiz todas sorrirem. Todas. Mesmo que isso não tenha sido permanente.
    Mas felicidade é algo abstrato, não? Não se pode ser feliz todo tempo, mas parece que é isso que ela me cobra. Quer eu seja feliz todo tempo para que isso mostre que ela está certa. Nunca consegui essa proeza e sei que não hei de conseguir, mas talvez essa busca de felicidade eterna seja o que nos faça bem pelo menos por algum momento. E talvez, durante  um milésimo de segundo, você me encontre sorrindo. E talvez, nesse milésimo de segundo eu não seja aquele cara que não se encaixa em lugar algum e que nunca ama ninguém, talvez por algum milésimo de segundo eu me encaixe no grupo de pessoas que se sentem bem por um milésimo de segundo e eu esteja amando alguém, nem que seja a mim mesmo. Mesmo que depois eu volte a ser o de sempre.
    Se você conhecer alguém feliz o tempo todo e que seja capaz de amar mais de uma vez, me avise. Eu penso que, se nada disso aconteceu em minha vida, é porque não era o momento certo, o dia, a hora, a pessoa certa no lugar certo, o dia em que haverá mais de um milésimo de segundo capaz de me fazer amar alguém e me sentir pleno. E que um dia eu sei que acontecerá, mas só se ela souber esperar. 
   Mas ela quer tudo pra ontem. É apressada e fica martelando mil coisas que muitas vezes me induzem ao erro e me tiram ao sono, mas nesses momentos, eu devo fazê-la se calar. Quando a emoção fala alto demais, a consciência e a razão escutam de menos, e a gente só é capaz de conseguir o que quer quando os sentimentos estão balanceados. É como uma equação de difícil resolução, mas de resultado perfeito. E só tendo consciência disso que se pode caminhar em plena paz.

domingo, 25 de novembro de 2012

Faithfully

    Eu poderia te redescobrir. Fechar os olhos e desenhar cada traço do seu rosto, cada parte do seu corpo, cada som da sua respiração. Você não sabe, mas eu te observava dormir e, enquanto você escondia seu rosto com as mãos, meus olhos se fechavam lentamente; tudo para que minha última imagem fosse você.
   Eu poderia me reinventar. E também poderia mudar. Mudar minha mania de acordar insuportavelmente bem humorada só pra ver, entre tantos bocejos, sua boca esboçar um sorriso. Nem sempre eu acordo feliz, mas se você está comigo, é mais fácil. A vida vista dos seus braços é mais bonita, vai por mim.
   Eu poderia te rever. Dizem que você anda por aí, eu ando por aqui e que um dia a gente se cruza. Às vezes acho que chegamos muito perto de nos esbarrar novamente, mas a vida dá um jeito para que isso não aconteça, e talvez seja melhor assim. Ou talvez não seja. Talvez o tempo esteja passando e eu esteja cada vez mais distante, e no fim das contas, a gente não se reconheça mais. Talvez.
   Eu poderia me reencontrar. Me perdi entre olhos, sorrisos, abraços, doçuras e complicações, e em cada parte de mim tem um pouco de você. E sei que em cada parte de você, tem um pouco de mim. Somos cicatrizes ambulantes e, em cada marca, carregamos histórias. Qual a sua preferida?
   Mas vai, vai tratar de viver. Eu tenho muito o que aprender, muito o que crescer, e você tem muito o que amadurecer. Você precisa de outros sabores, de outros braços, de outros olhos a te observar. Eu preciso me encontrar, me sustentar, ser feita de mim e não de você. E não existem cartas, astros, números, destino que seja capaz de impedir o que há de vir, e a gente ainda vai se ver.

"Me encontra, ou deixa eu te encontrar..."

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Moça

     É normal sentir medo, moça. É fácil esconder as bochechas coradas num gesto tímido, jogar o cabelo no rosto e desviar o olhar, é fácil descascar o esmalte vermelho das unhas longas, é fácil juntar as roupas, os livros e deixar um bilhete de adeus. Difícil é deixar pra lá.
    Foge de mim, moça. Finge que aquela foi a nossa última dança, que nosso compasso se desfez e que a gente já não encaixa mais. Finge que suas pernas não bambeiam quando me vê ou quando seu telefone toca e sou eu trazendo cores pra sua vida mais ou menos rosa. Finge que piso no seu pé e que não sei te conduzir, e que você não confia na firmeza das minhas mãos em sua cintura, finge que você não confia quando digo "deixa comigo" e que você não quer enlouquecer no meu ritmo. Finge que eu não te deixo louca.
    Vá em frente, moça. Passa teu batom vermelho e se esconde do mundo, se perfuma e se insinua pros outros rapazes, vá e volte pra casa com um vazio que só eu sou capaz de preencher. Levanta a sobrancelha arqueada e diga que eu não presto, recusa meus convites e não responda minhas mensagens, finja que eu não existo e que não sou o que te completa. Mas no fundo você sabe... Sou o veneno que te falta, a dose de coragem que te impulsiona. Eu sou igual a você.
    Pode negar, moça. Sorrir com os lábios e esconder os dentes, ironizar os astros, os números, o mundo. Teimar que somos opostos e que dois bicudos não se beijam, tentar ganhar tempo com desculpas esfarrapadas e conversas escassas. Atiçar, correr, voltar, retornar e ir embora de vez. Mais uma vez. E voltar. De novo. E no final de tudo, dormir em meus braços.
   Eu sei que sou problema, moça. Mas você também traz a confusão em seu olhar, e isso pra mim não é empecilho. Até deixo de fazer a barba se você permanecer. E reservo meu lado canalha só pra você. E passo a achar sua risada esquisita, um charme. E sua mania de falar demais. E sua mania desesperada de achar que vai dar errado. E seu otimismo exagerado. E seus olhos miúdos pela manhã. Eu não prometo mudar, moça, mas pretendo te fazer querer ficar.
    Você é uma fraude, moça. Se faz de firme, louca, assusta quem está à sua volta em busca do que realmente importa pra você e faz com que muitos conheçam seus espinhos e não seu lado flor. Deve ser divertido ver tantos rapazes se espetando e (covardemente) desistindo de ficar, mas sei que às vezes você chora no final. Se entope de chocolate na tpm e se derrete com "Breakfast At Tiffany's", mas finge que romantismo não é pra você. Sonha com o mundo mas sorri contido, diz que não se importa mas não consegue não ligar. E me liga assustada de madrugada com um pesadelo bobo e sem sentido só pra escutar minha voz até dormir. E eu vou dormir sorrindo, porque, afinal, eu também sou uma fraude.
    Fica comigo de uma vez, moça. Deixa eu entrar nesse mundo que é só teu, deixa eu te fazer minha e te puxar pra minha dança. Para de tentar fazer tudo do seu jeito e deixa eu te conduzir só dessa vez. Desiste de desistir, tenha medo de ter medo e o que faltar, deixa que eu forneço. Se deixa confundir de vez, faz o que te der vontade porque essa é a minha vontade também, e se quiser me culpar, eu juro que me rendo. Nosso crime é o mesmo, moça, mas eu te garanto que a sentença compensa.

Então, vem comigo?

"Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz. Me corpo é testemunha do bem que ele me faz..."

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Uma história sobre o desamor, ah, o desamor

      Ela cheirava a jujuba. Aquele perfume exalava tanto que eu podia sentir  sua chegada a quilômetros de distância, e aos pouquinhos eu podia ouvir sua voz baixinha sempre cantarolante. Ela parecia sempre feliz mas com um quê de não-sei-o-que que até hoje não sei o que é. E talvez nem ela mesma saiba.
    Não só seu perfume e suas cores são doces, mas também seu jeito. Tão doce que às vezes me faz enjoar, mas na TPM fica tão azeda que eu prefiria um equilíbrio disso tudo. Mas cadê que ela consegue? Ou é 8 ou 80.
   Ela só sabe me chamar de chato, irritante. Mas não tem como ser simpático quando a pessoa liga oito vezes às 5h da manhã "só pra te perturbar". Ela é perturbada e não tem outra explicação. E quando fica na dela, calada, eu fico preocupado. Ela fala demais, então quando ela some, desconfio. No silêncio é que se encontra o problema...
   Enquanto as outras meninas se distraem com "50 tons de cinza", ela se apaixona por sabe-se lá quem de uma coisa que nunca ouvi falar e reclama da enrolação do livro da Clarice Lispector. "De complicada já basta eu", ela diz em tom reflexivo e eu tenho que concordar. E por que ela não pode ser que nem as outras moças? Por que ela não pode ser uma pessoa normal, falar e agir como uma pessoa normal, ao invés de ser uma pessoa desconexa? Mas é como diz a música, talvez uma garota estranha faça você morrer por uma noite, ou de uma vez... E se ela fosse normal, ela não seria o motivo da minha causa mortis. Ou vida.
   E daí que não concordamos em nada? E daí que parecemos cão e gato? E daí que somos parecidos? Até que é divertido quando deitamos com os dedos dos pés entrelaçados e ela faz um monte de planos impossíveis, mas lindos. E me abraça de repente, faz cafuné e apoia sua cabeça em meu ombro enquanto me conta o seu dia. E olha pra cima quando fala algo romântico. E mexe freneticamente no cabelo, meu Deus, como ela mexe no cabelo, e ri do próprio nervosismo. E dá aquele sorriso do qual ela morre de vergonha. E sorri com mais vontade quando percebe que observo sua covinha esquerda. E diante disso tudo, eu sorrio também.
   E é nesse descompasso acelerado que a gente constrói o nosso (des)amor. Nossa história parece filme, roteiro mal definido. Sem verba para se transformar num curta, que dirá num longa bem sucedido. Acho que nem eu nem ela conseguiríamos arcar com todas as despesas e transformar esse enredo em amor. Ela não sabe amar e eu muito menos. Mas a gente tenta, a gente vive e faz o que dá, apesar de todas as diferenças e igualdades. E se não der certo? Qualquer coisa, a gente divide aquele sorvete de flocos que ela adora e finge que a vida é isso aí, doce que só (ela).

domingo, 7 de outubro de 2012

You save me

     Rostos maquiados. Corpos artificiais. Almas vazias e sentimentos mascarados. Um eterno carnaval onde as fantasias são permanentes e a festa, eterna. Muito sorriso pra pouco dente. O motivo é supérfluo, o encantamento é lúdico, e o amor, simbólico. Amizade é negligência e as aparências mostram o que deve ser visto, sempre defendendo o status quo. Mecanicamente falando, é a perfeição in vitro ao alcance de todos os (in)felizes.
     Gestos milimetricamente programados para agradar. Sorriso branco tatuado, voz baixa e olhar sereno. De paisagem, eu diria. Covinha no queixo, cabelos bagunçados demonstrando seu jeito despojado de não ser. E não era. Bem vestido, perfumado e barba feita, tudo tão correto, tão perfeito e tão bonito... E eu havia me apaixonado por um homem de lata.
    Não, ele não era capaz de me salvar. Seus gestos mecânicos condiziam com a selva de pedra em que vivíamos, e eu só queria alguém de verdade para que pudéssemos dar o fora. Mas quem deveria dar fora era eu, eu era carne, osso, sangue e emoção demais para todo aquele concreto. Mas esse é o preço que se paga por ser quem se é de fato, não? Talvez.
     Não era amor, era uma espécie de placebo sentimental ao qual eu estava condicionada. Mas sim, eu o amava, só que o que ele podia me dar era menos que eu queria e mais até do que ele esperava. Aquele sentimento despejado a conta gotas e aqueles gestos beirando à perfeição eram tão metódicos que eu só queria que ele não seguisse um roteiro, assim seria mais natural. Mas não. Ele tentava, ele se esforçava, mas não conseguia curar todo aquele bloqueio interno, e ele acaba por sistematizar suas emoções, sua vida. E a nós. Ele me buscava aos sábados, me encontrava 1h, acordava às 6h, me ligava às 9h. E eu só queria um pouco de aleatoriedade em meio àquilo tudo.
   Mas ele era mecânico demais. Eu gostava de sorrisos e cosquinha, ele tinha medo de me machucar. Eu gostava de carinho e pernas entrelaçadas, ele preferia mensagens de texto antes de dormir, eu gostava de beijos e caminhadas na chuva, ele só queria me proteger. E de tanto se prender ao certo, ele acabou errando. Pelo menos comigo.
   Ele pensava demais. Parecia que dentro de sua cabeça as engrenagens haviam se enrolado, talvez o cerebelo estivesse enferrujado e os parafusos sentimentais já não se encaixassem mais. E mesmo confuso, eu só queria que ele cansasse de ser perfeitamente encaixável e passasse a ser ele mesmo. Que deixasse a emoção transpassar a razão. Aquela sistematização toda me cansava, era tão... Comum. E eu só queria que ele fosse diferente. Talvez eu quisesse demais, talvez eu quisesse que ele fosse igual a mim. E que fosse totalmente meu. Mas, sinceramente, ele nem pertencia à si mesmo... Ele era o que a vida quis.
   Até hoje eu não sei se ele tem um coração. E se seu coração tem artérias ou apenas fios cheios de nós. E confusões. E resquícios enferrujados do que um dia foi um amor. Mas eu torço para que meu homem de lata se torne de carne e osso e que se encontre e não se perca jamais. E que seu coração não vá parar num ferro velho junto com tantos outro corações que se deixaram perder nessa selva de concreto chamada rotina.

"And you're patient, love, and you help me help myself, and you save me..."

domingo, 5 de agosto de 2012

Sentimental

    Eu não entendo como uma mulher pode sentir tanto. Ela sabe que lhe faço bem e lhe faço mal na mesma proporção; não é um mal daqueles irremediáveis, o ódio não é bem ódio, é só raiva passageira, daquelas que aparecem quando ajo em contradição a tudo que ela acredita. Mas também, ninguém manda ser tão confusa...
   Ela fica tempos sem falar de mim. Na frente dos amigos age com completo desdém, frieza, às vezes até consegue se travestir de alguém que não se importa... Mas ela não é assim. Ela pensa em mim, sei que pensa, e lembra de mim. E é doce. E se importa. E entende de detalhes e pessoas tanto quanto eu. E se perde em devaneios quando fala em nós. Eu disse, ela é confusa.
   Ela se importa com tudo, até com o que eu finjo não perceber. Mas no fundo eu sei o que se passa. Só que é complicado, amor... Mas volta aqui, deixa eu te abraçar. Com cautela e evitando o olho no olho, sabe como é, a gente pode lembrar... Sim, eu lembro de tudo. Você se lembra? Você se importa? Sim, eu me importo, só não sei como expressar. E talvez não seja para expressar, para lembrar... Sei lá.
   Eu sei que também sou confuso. A indecisão está presente, seja na cor da blusa que escolho para ir ao trabalho até o caminho a ser tomado. Eu penso demais, você sabe como é. E talvez nem valha a pena... Ou talvez valha e eu não saiba. E eu sei que você pode ir embora a qualquer momento, mas é um risco que corro... Ou não. Volta aqui, volta...
   Ou então vai de uma vez. Esse seu orgulho e prepotência não vão te levar a lugar algum. Você é confusa demais, moça, e acho que nenhum outro rapaz aguentaria essa sua bipolaridade. E não adianta gritar pelo quarto que me odeia, por que o eco que ele faz, diz que isso é amor e é você que não consegue aceitar. Ou consegue, mas não suporta a ideia. Ou talvez não me suporte, assim como não te suporto quando você teima demais, fala demais ou discute demais. Você é egoísta, exige demais de mim e cai em contradição quando me deixa livre. E me quer por inteiro, mas não sei se posso te dar metade. Quando você se doa e diz ser por completo, sempre falta algo, eu sinto a falta. Você é louca, contraditória, complicada e... sentimental demais. Respira fundo e pára de chorar que nesse exato momento não estou te suportando. E não estou me suportando por isso também.
   Desculpe. Deita no meu peito, diz que eu sou o amor da sua vida e que você consegue vislumbrar todo um futuro pela frente. Diz que nunca vai sair do meu lado, que nunca vai soltar a minha mão e que sempre poderei contar com você. Você já fez demais por mim e o pouco que te fiz, espero que seja grande em seu coração. O que vai ser da gente, deixa o amanhã guiar. Mas confia no amanhã, em mim, na gente e mais em si mesma. Ninguém vai tomar o seu lugar e eu não vou te abandonar. Pelo menos não agora e pelas próximas horas. Você sabe, não posso te prometer nada... Só que sempre estarei no mesmo lugar caso você queira me achar. Ou se perder.

"Se ela te fala assim, com tantos rodeios, é pra te seduzir e te ver buscando o sentido daquilo que você ouviria displicentemente. Se ela te fosse direta, você a rejeitaria."

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Você sacou a minha esquizofrenia e maneirou na condução

     Antes fosse um mero frisson. Antes fosse empolgação, fogo de palha, animação. Antes fosse vontade passageira de pegar a mão e seguir em frente, mas quando essa vontade esporádica se prolonga e não cessa, temos um problema. Ou não.
   Você confundiu minha cabeça desde o primeiro momento em que você disse calmamente "sei lá" e eu senti na pele o que aquilo significava: confusão. Eu, que desde o primeiro minuto deveria fugir, permaneci e me deparei com uma vida que não seria capaz de suportar. Era bagunça demais pra minha mania de arrumação, de catalogar emoções e engavetar sentimentos enrolados. Até que eu decidi sistematizar você.
  E foi aí que decidi ir embora. Arrumei minhas coisas e minha complicação e segui em frente até encontrar onde ficar. Desfiz as malas, arrumei as gavetas e descansei com a sensação de que finalmente tudo estava retornando ao seu devido lugar. Mas entre tantas gavetas arrumadas, existia uma bagunça bem ao fundo. Você não consegue lidar com a descomplicação, não é mesmo? Mas aos poucos fui conseguindo me organizar e organizar você, até te guardar como pura lembrança de tempos de guerra.
   As coisas foram se ajeitando e tive sentimento, tive abraço, tive beijo, tive carinho. Eu tive reciprocidade, tive vontade mútua e tive diferenças também, mas tive o que nunca tive com você: certeza. E foi isso que me fez querer mergulhar fundo e sem medo de errar, mesmo sabendo que ainda não havia amor. A gente não consegue arrumar uma bagunça de anos em poucos dias, mas eu sentia que havia uma eternidade pela frente, uma eternidade onde você não tinha espaço mas eu tinha sossego. Uma eternidade onde eu poderia ser quem sempre quis ser para alguém e teria algo que você nunca conseguiu ser: meu.
   Mas a vida dá voltas e, por mais que a gente insista em organizar, arrumar e rotular, certas coisas a gente não explica e não entende. Minha tranquilidade acabou, era apenas um oásis que não resistiu ao meu deserto de sentimentos. E, no fundo, eu só queria voltar a arrumar a bagunça que você fazia. Talvez eu tenha me acostumado à surdez em meio a tanto barulho e talvez só eu te entenda. Talvez só você me complete ou seja a peça-chave pro que sou. Ou ok, talvez eu simplesmente esteja louca, mas quem mais entenderia minhas frases sem sentido?

   Eu ainda escuto o eco do barulho que a gente faz. Eu ainda entendo o que ninguém consegue explicar e só você é capaz de preencher minhas entrelinhas. Mas como lidar com essa ânsia de certezas e paz quando se retorna aos tempos de guerra? Como lidar com essa vontade de calmaria se, no fundo, você é minha doce tormenta? Eu juro que não sei. Só que sei que é difícil lidar com tanta contradição, mas só estando junto a você e totalmente desalinhada é que me sinto em plena paz.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Your ex-lover is dead

     Querido, guarde suas chaves. Complete seu ritual, coloque "You only live once" pra tocar, pegue seu whisky sem gelo e tire seus sapatos. Sei que seu dia foi longo e cansativo e a noite promete ser um pouco cansativa também. Desculpe-me por isso.
   Sei que mil dúvidas te rodeiam neste exato momento. Talvez tenha sido isso, essa nossa ausência de certeza, essa nossa eterna certeza da dúvida, essa confusão que foi se prolongando. Prolongamos demais o que já não existia e demos socos ao vento, lutamos contra nós mesmos e tornamos a convivência difícil. Uma pena pr'o tamanho do nosso amor.
   Você é maravilhoso. Fica esplêndido ao sorrir, ao gritar vendo futebol, ao sair pela casa de toalha dizendo que é meu e só. Eu sinto como se tudo em você fosse bonito, a forma de ser e de pensar, o jeito de gostar de animais e de crianças e de dizer que mesmo não gostando de bolo de chocolate, ainda sim você gostava de mim. E do meu cabelo bagunçado que você insistia em ajeitar toda vez em que a gente ia se beijar. Sei que parece piegas, mas você é o amor da minha vida. Aquele amor dá vontade de envelhecer junto na varanda da nossa casa de verão, vendo nossos netos correrem pela praia com o nosso labrador. Aquele amor sonhado e sonhador que desenhamos no calor da nossa cama enquanto você cantava baixinho que eu era seu sonho azul. Espero, ao menos, que você saiba que sempre vai ser o meu.
   Na hora da partida a gente relembra toda a beleza, fazendo com que seja mais difícil partir. O primeiro beijo, a primeira noite, o primeiro acordar, a primeira briga que antecedeu a primeira reconciliação... E se esquece que, se olharmos pra trás novamente, veremos que não foi tão bonito assim.
   Você me ganhou nos detalhes e nem soube, mas me perdeu no principal. Eu te pedi pouco, muito pouco, mas você não se importou e deixou de lado. E tudo que você deixou, fez com que ficássemos de lado, e antes o que era foco, passou a ser secundário. E você sabe, querido, que não suporto meio-termo, morno ou monótono. Pouco eu não quero, não mais.
   Você me prometeu o mundo, mas no final, nem atendia mais o telefone. E foi deixando pra depois. Pra mais tarde. Pra amanhã. Abraçou o descaso, me deu um beijo na testa e foi dormir sem nem ao menos se importar. E todos aqueles pequenos detalhes, antes tão importantes pra mim, já não existiam mais. Então, querido, quem não pôde deixar pra mais tarde fui eu.
   Não se espante, mas não vou mais voltar. Faça tudo como você sempre fez, visto que eu, não altero sua rotina. Ponha todos os seus cds de rock no carro, espalhe as cuecas pela casa e encha a geladeira de cervejas, mas não se esqueça de abaixar a tampa do vaso. Fora isso, vai ficar tudo bem.
   Sei que tudo isso foi um choque pra você, mas vai ser melhor assim. E eu vou continuar te amando de cá, e quem sabe você me amando daí, e um dia a gente se reencontra. Quem sabe amanhã. Mais tarde. Depois. Ou talvez, ah, deixa pra lá...

Com todo amor,
      o seu.

"E eu fiz de tudo pra você perceber que era eu..."

domingo, 17 de junho de 2012

Palpite

     Certas coisas não são feitas pra durar. Certas coisas são fortes, mas causam uma reação de curta duração, como um antídoto, uma droga ou um remédio.E também existem pessoas que causam algum tipo de efeito, como você. Mas não conta pra ninguém...
   Você não é nada demais. Não é bonito demais, velho demais, alto demais, moreno demais, interessante demais, tanto que quando você vira as costas, eu permaneço zonza, mas aos poucos eu mal me lembro o que me tonteou. Mas ainda sim tem algo que chama a minha atenção em todos os nossos (re)encontros e eu ainda não descobri o que é. E não, eu não me importo em ficar no escuro, desde que esteja com você.
    Protagonizamos um velho clichê. Aliás, dois, entre arcos e confetes a ocasião fez o ladrão, ladrão esse que me roubou dali e me fez querer não mais voltar. Voltar, só se fosse com você ao meu lado, você que antes não chamara a minha atenção, me fez ter olhos, bocas e ouvidos totalmente seus. Você, que implicava comigo e me fazia voltar aos cinco anos de idade só pra ter um ar de superioridade e maturidade sobre mim. Você que ria e ajeitava aquele chumaço de cabelo que insistia em me tampar a visão, mas que me tampou a visão quando me abraçou e me descansou em seus braços. Você, que mesmo não sendo príncipe e eu não sendo princesa, teve que ser deixado meia-noite em ponto. Sabe como é, eu precisava ir ao soar dos sinos, e eles já gritavam à muitos e muitos beijos...
   E entre tantas tentativas frustradas e conversas infundadas, tempos depois, here we go again. É engraçado como "a gente" existe num só lugar. Parecemos despretensiosos, mas ao primeiro descuido do mundo, estamos juntos novamente. E confesso que, de você, não quero soltar tão cedo. Você acha engraçado o meu esquecimento e eu acho engraçada a sua falta de gingado, mas se a gente vai juntinho, vai bem. Vem pra cá que eu tenho muito a te ensinar (e a aprender)! E vem pra cá que eu quero aquele abraço tão sutil e tão meu, que é meu e só. Por um momento é tudo que eu preciso, é tudo que eu quero e tudo que eu vejo. Mas não somos feitos pra durar, e dessa vez quem tem que me deixar no melhor da história é você. Mas me deixa um beijo, um abraço e seu gosto que eu solto sua mão e te deixo ir. Mas só por hoje.
   A vida segue, meu bem. Seu efeito me domina por curto prazo, mas é melhor assim. A duração não condiz com a intensidade, e talvez, se fosse constante, não seria tão diferente, tão intenso. Não somos coisa de momento, mas sabemos como construir uma história nada convencional entre idas e vindas. E nossas vidas estão sempre se cruzando e se desencontrando, quando o destino quer, ele faz dar certo. Só que nem sob tortura eu confesso, mas eu gosto do barulho que a gente faz. Sabe como é, eu não costumo entregar os pontos no melhor do jogo porque eu quero o melhor de você, e eu sinto que essa nossa partida está apenas começando. Sorte a nossa.

"E aí o amor pode acontecer, de novo, pra você..."