quinta-feira, 1 de março de 2012

A vida é mesmo coisa muito frágil

     A vida é frágil, meu amigo. E curta. E dolorida. E maravilhosa. E o que você faz dela. E dramática, tal qual um espetáculo de teatro. Resta saber se você escolhe ser o protagonista ou o figurante.
     Ao nascer, as cortinas se abrem. Você dá de cara com uma platéia nem sempre satisfeita, você dribla todas as dificuldades, arranca sorrisos e lágrimas de quem te rodeia, e quem te rodeia te faz sorrir ou chorar também. E durante o primeiro ato, você aprende a dar seus primeiros passos, aprende o que é certo e o que é errado, aprende a  conviver com as diferenças, com os gostos, críticas e aplausos de sua platéia, e isso faz com que uma base para o segundo ato seja construída. E se essa base não for sólida, você não tem nada.
   
     Segundo ato. Você é forte, já possui as idéias formadas, então, por que se contentar com pouco? Você passa a dar o melhor de si para crescer mais e mais, você se despede da época em que deu seus primeiros passos, amigo, você já não usa andador, precisa largar a bicicleta de rodinhas e andar em cima de uma corda bamba que vai te fazer cair se você não for esperto. Vivência, meu amigo, vivência, inteligência e delicadeza, que, quanto mais você vive, mais o público pede! E você não quer desapontar ninguém, aliás, você não quer se desapontar.
   
     Terceiro ato. Grandes emoções lhe aguardam. Você, que brincava de casinha na infância, hoje brinca de  namorado e namorada, você que brincava de polícia e ladrão hoje brinca de faculdade, e você que pulava amarelinha, aprendeu bem que existe o céu e o inferno, basta ter cuidado onde você vai jogar sua pedrinha. Amores, trabalho, saúde, responsabilidades, você já é praticamente um adulto! E a platéia sempre exigindo  mais, quer que você cresça, apareça e se tropeçar e cair, que saiba levantar. E levantar com o peso dos anos nas costas não é fácil, meu amigo, mas você já aprendeu o que o público e vida têm a te ensinar, e vai saber usar isso muito bem. Amor, amigos, família, isso que você vai levar, e se você não souber lidar com esse público que te cerca, você vai aprender o que é solidão. E dessa peça você não quer fazer um monólogo, então tenha jogo de cintura e saiba discernir o bom do ruim. Destreza, meu amigo, destreza...
   
     Quarto ato. Nem sempre a vida é feita de flores. E nem sempre você vai estar cercado de uma platéia contente, ora sua platéia ovaciona, ora sua platéia critica, e é assim que vai ser daqui pra frente. Os dramas pessoais vão lhe derrubar, trabalho, família, às vezes a saúde vai lhe faltar, mas é justamente aí que você deve resgatar as lembranças dos atos passados e usar de seu aprendizado: tenha fé! Fé que vai crescer, fé na esperança, fé que o dia seguinte vai ser melhor, e nada é tão ruim que não possa ser remediado. A não ser quando as cortinas se fecham no final, meu amigo, isso sim não tem volta.
   
     Quinto e último ato. Você vai levar tudo que aprendeu nos atos anteriores, o material vira pó, a lembrança perdura e os sentimentos também, então tenha muito cuidado com o que é apresentado em seu espetáculo. Não deixe que rancores e sentimentos levianos tomem conta de seu show, personagens que não acrescentam, não os inclua aos atos seguintes, só quem tem valor permanece, e deixe que o sorriso sempre sobreponha as lágrimas. Faça questão de levar seus atos com leveza, pois de nada adianta franzir o cenho a tudo que te acontece; senão no quinto ato você vai ter mais rugas que o esperado. E, meu amigo, agradeça todos os dias pelo seu espetáculo não ter sido interrompido nos primeiros atos, porque se você chegou até aqui, você tem sorte, pois a vida é muito frágil, pode ser uma bobagem, uma irrelevância, mas ela é uma só. E que você tenha sensação de dever bem cumprido e felicidade plena. 

Que se fechem as cortinas!

"Somos tão jovens, vamos viver o momento, me dê a mão, vamos fugir daqui, nós dois correndo, morrendo de rir, dane-se o mundo ao nosso redor, vamos de encontro ao nada..."