Engraçado como algumas coisas que
nos dizem numa conversa informal ficam marcadas a ponto de remoermos isso
durante muito tempo. A gente pensa, repensa, volta a pensar e se pergunta se
existe alguma verdade no que foi dito e chegamos a duvidar de nós mesmos. Ou
absorvemos o comentário e deixamos pra lá. Só que esse tanto de tempo, pra mim,
ainda não acabou.
Ela vivia repetindo que eu era solitário e que vivia como um homem que não conseguira amar ninguém além de
si mesmo. Que até a minha "tristeza solidária" era egoísta e que
qualquer sentimento meu, tinha a ver exclusivamente comigo. Eu ria e ignorava,
mas confesso que tempos depois eu pensei: será?
Eu nunca fui de sorrir muito, mas rio bastante até. Talvez socialmente, talvez pelo calor do momento, mas muitas vezes me
pergunto “que diabos estou fazendo aqui?”. As pessoas acham graça até demais de
coisas que eu, muitas vezes, acho irrelevantes, e talvez o que eu ache graça,
quase ninguém entenda e assim caminha a humanidade. Muitas vezes me vejo num
grupo de amigos e sinto como se tivesse uma visão à parte do grupo: eu sempre
destacado da massa. Não que eu não consiga me integrar, eu tenho carisma, sei
conversar e sei quando me calar também, mas não acho que eu me encaixe em algum
lugar. Nunca me encaixei em lugar algum.
Apego é uma coisa abstrata: dizem que
homens bons não se apegam a nada material, pois nada se leva desse plano. Então
eu me pergunto: por que trabalham tanto? Viram noites fumando em varandas,
suando frio e pensando no dia de amanhã, sendo que não se sabe se existirá um
amanhã e o que o destino lhes reserva. E sonham em ter um carro, sonham em ter
uma casa, sonham em pagar as contas. E outros tantos ficam insones pensando
numa forma de ganhar mais dinheiro; trocam de carro, compram mansões e sonegam
os impostos. E eu, definitivamente, não me encaixo nisso. Nem na rotina, nem no
supérfluo.
Talvez ela esteja certa. Eu nunca amei e
isso me dói. Talvez seja a tal dor egoísta da qual ela me falou, porque eu
penso nos relacionamentos que tive, e ainda sim, não amei ninguém. Apego
emocional nunca foi o meu forte, e enquanto minhas namoradas se descabelavam aos prantos em frente ao meu portão, eu as confortava racionalmente, e
sinceramente, não entendia o porquê de tanto sofrimento. Eu sabia que depois de
um tempo elas iam se recuperar e encontrariam um homem melhor. Talvez não um homem
melhor, mas um homem diferente, um homem que iria lhes dar tudo que eu não
pude. E que, sinceramente, eu não quis. Talvez nesse ponto eu não seja tão
egoísta, já que não se pode dar o que não se tem.
Como um homem que nunca amou pôde deixar
um amor em cada estação, eu não sei, mas é assim que eu me sinto. Gravo seus
rostos acompanhados de um momento feliz, é assim que me recordo de cada uma.
Posso ter muitos defeitos, posso não sorrir tão facilmente, mas uma qualidade
eu tenho: eu fiz todas sorrirem. Todas. Mesmo que isso não tenha sido
permanente.
Mas felicidade é algo abstrato, não? Não
se pode ser feliz todo tempo, mas parece que é isso que ela me cobra. Quer eu
seja feliz todo tempo para que isso mostre que ela está certa. Nunca consegui essa proeza e
sei que não hei de conseguir, mas talvez essa busca de felicidade eterna seja o que nos faça bem pelo menos por
algum momento. E talvez, durante um milésimo de segundo, você
me encontre sorrindo. E talvez, nesse milésimo de segundo eu não seja aquele
cara que não se encaixa em lugar algum e que nunca ama ninguém, talvez por
algum milésimo de segundo eu me encaixe no grupo de pessoas que se sentem bem por um milésimo de segundo e eu esteja amando alguém, nem que seja a
mim mesmo. Mesmo que depois eu volte a ser o de sempre.
Se você conhecer alguém feliz o tempo
todo e que seja capaz de amar mais de uma vez, me avise. Eu penso
que, se nada disso aconteceu em minha vida, é porque não era o momento certo, o
dia, a hora, a pessoa certa no lugar certo, o dia em que haverá mais de um
milésimo de segundo capaz de me fazer amar alguém e me sentir pleno. E que um dia eu sei que acontecerá, mas só se ela souber esperar.
Mas ela quer tudo pra ontem. É apressada e fica martelando mil coisas que muitas vezes me induzem ao erro e me tiram ao sono, mas nesses momentos, eu devo fazê-la se calar. Quando a emoção fala alto demais, a consciência e a razão escutam de menos, e a gente só é capaz de conseguir o que quer quando os sentimentos estão balanceados. É como uma equação de difícil resolução, mas de resultado perfeito. E só tendo consciência disso que se pode caminhar em plena paz.
Mas ela quer tudo pra ontem. É apressada e fica martelando mil coisas que muitas vezes me induzem ao erro e me tiram ao sono, mas nesses momentos, eu devo fazê-la se calar. Quando a emoção fala alto demais, a consciência e a razão escutam de menos, e a gente só é capaz de conseguir o que quer quando os sentimentos estão balanceados. É como uma equação de difícil resolução, mas de resultado perfeito. E só tendo consciência disso que se pode caminhar em plena paz.
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