domingo, 8 de maio de 2011

Quase um segundo

   De todas as coisas angustiantes, o não saber foi o que sempre atordoou. O não poder ser completa e inteiramente, o gostar efêmero, incerto, inquieto. Um amor, não passageiro, por que chegou, se instalou e não quis ceder seu lugar, mas um amor de passagem, que chegava, alegrava, mas que partia sem prévia de retorno.
   Por não ser banal, normal e comum, é instigante e agradável. Mentira. Agradáveis são os beijos na madrugada, o cheiro que não sai da pele, o gosto que gruda igual chiclete, as mãos entrelaçadas, a canção clichê que faz lembrar, o sentimentalismo barato, o estômago comprimido, o acelerar do coração. É o tipo de sentimento que se manifesta mascarado, querendo se passar por frisson, arrepio na pele, mas que no fundo gostaria de se mostrar limpo, íntegro e bonito, mas é tímido, típico de gente que fala baixinho pra não incomodar.
   Um amor sem complementos, acostumado a existir por si só. E a insistência para que ele se dissolvesse aos poucos foi grande, mas ele é teimoso, tal qual o coração de quem sente.  E... amor? Sentimento, sim. Paixão, talvez. Amor, não se sabe. Atordoante, demais. Não, não se deve denominar, explicar ou concretizar o que se sente, a graça das coisas mais bonitas está em serem intensas e inexplicáveis. Filosofia de boteco, mas faz sentido.
    Só que nem só de beleza vive o ser humano. Felizmente essa história não é um conto de fadas, está mais pra faz-de-conta, dissertação mal resolvida, por todas as suas incertezas e defeitos. Mas até os defeitos são amáveis, as incertezas, não. Elas corroem, incomodam e desiludem, como se fosse um bichinho que rói aos poucos, deteriorando tudo que se sente. Eis o que faz doer.
   É um sentimento desajeitado. Não sabe como se portar, como agir, o que fazer. Não sabe se liga, se procura, se some, se desaparece, se esquece, se retorna. Se liga de madrugada, se olha nos olhos, se chama de amor, se sorri, se aproxima ou deixa afastar. É um amor que sabe o que quer ser quando crescer, mas tem medo de virar adulto. Mas tudo tem a sua hora, e... Quando é assim, se entregar é bobagem?


Nenhum comentário:

Postar um comentário