domingo, 15 de maio de 2011

O vento vai dizer...

    Quando criança, fui ao Pão de Açúcar com minha madrinha. Ao entrar no bondinho, fui em direção à ponta, aonde era tudo vidro e possuía a melhor vista, o melhor ângulo. Lembro-me que minha mãe havia dito para eu não ficar tão perto de onde estava, nem lembro por que, só sei que nada me impediria de ver tudo que vi, de observar toda a beleza eu poderia. Eu não pensei, só fui.
   Quando cresci, perdi toda essa destreza. Como assim, não pensar, só ir? Aonde ir, o que fazer, o que tentar? Pisar em ovos, nadar contra a maré, enfrentar a correnteza? E a base, a segurança? Sempre fui tão cheia de incertezas, de incógnitas, meu olhar de esfinge não me deixa mentir. Além de todas as perguntas sem repostas, havia a necessidade de dar um sentido a tudo. De descrever, listar, organizar, ter certeza, segurança, base. Saber o que se quer ser, encaixar-se aos padrões, superar expectativas alheias, superar minhas vontades, ser sempre controlada. Havia necessidade de ser perfeita, de acertar sempre, de traçar metas e segui-las fielmente.
   Quando o coração se angustiava, a melhor coisa a fazer era colocar o rosto pra fora do vidro do carro, sentir o vento no rosto, o cabelo dar nó. O vento fresco, o vento frio, o vento gelado cortando as bochechas, corando-as mais e mais, até que o sangue circulasse com vigor e a sensação de vida me tomasse por completo. Eu sempre fui assim, gostei de me sentir viva, liberta, com o coração acelerado e desopilado, pronto pra amar, poder ser, aceitar, poder ir, poder voltar, sem preocupações ou premissas de um amanhã estritamente alinhado. Só que internamente havia uma contradição sem fim, conciliar liberdade e responsabilidade, descontração com perfeição. Quase uma prisioneira de mim.
   Dizem que no final tudo dá certo. Que tenho bom gosto, sou compreensiva, tenho um jeito maravilhoso de ser. Que tenho a insegurança mais banal, que sou complicada, que sou pé atrás... muito. E tantas coisas mais ouvi, coisas que me fizeram tomar decisões, crescer e aprender a tentar. A tentar ser, sem medo, só tentar, ao invés de imaginar como as coisas teriam sido se eu não fosse tão pelos outros, tão ressabiada, com asas tão longas e com tanto medo de voar. E agora que resolvi tentar, eu vou me jogar, vou surprir a necessidade de buscar o meu caminho, o meu lugar, sem sombras ou quereres alheios, sem ferir ou julgar ninguém, sendo sempre quem sou. Contraditória, talvez, verdadeira com meus sentimentos, sempre.

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