quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Igual a qualquer um

     E daí você bate à minha porta, aponta meu erro e meu abandono e sai sufocado pelo meu perfume doce e pelas minhas justificativas ácidas; não importa o que aconteceu, a culpa foi sua e eu não me rendo. É que você escancara a porta e volta pra minha vida, sai pela janela e eu fico sem saída, arromba meus sonhos, e minha única vontade era a de te dar a chave da porta da frente e te pedir pra ficar...
    E daí que você reclama que sou inconstante. Você vai, volta mas não fica, reivindica seu lugar mas não toma posse, e ainda sim, eu só queria organizar suas roupas e a bagunça do seu coração. É que às vezes dá saudade de bater o tornozelo no pé da sua cama enquanto você me pedia pra ficar...
    E daí que eu finjo que não me importo por que me recuso a ser mais uma boneca de estante, de coração de porcelana que passa ter um coração de pedra. Me recuso a desperdiçar todo o meu mel em uma única flor que não resolve se desabrocha em minha primavera, se murcha, se deixa morrer. É que eu cansei de brincar de mal-me-quer e bem-me-quer com tantas flores do jardim e poupar você, só pra ver se você desabrocha e deixa os meus dias mais bonitos, em dias bonitos eu te pediria pra ficar...
     E daí que eu queria, em um dia normal, te encontrar e te cumprimentar com um "oi" normal, conversar coisas normais por que você seria só um cara normal. O tempo, os dias corridos, a faculdade, o trabalho. Conversar sobre a banalidade e a normalidade a qual eu deveria te atribuir, mas só o que ainda posso te oferecer são mensagens na madrugada, ligações feitas quando a vodka fala mais alto, ignorar e evitar te encarar o máximo que eu puder. Quem sabe amanhã isso não muda? É que esse é o tipo de coisa que se faz quando se quer fazer justamente o contrário, se quer abraçar mais do que deveria, quando se cala exatamente o que queria dizer e se espera que você sinta as mesmas vontades, por que ainda há esperança de que você me peça pra ficar...
     E talvez seja por tudo que você foi, você ainda é, pelo que passamos, significou. E eu não suporto os dias e a ideia de você não ser o dono da chave da porta da frente, do nosso jardim não florescer e de ter que te olhar como um cara igual a qualquer outro. Minha saudade, meu abraço, meu carinho, tudo em mim se acostumou a você, por mais que não pareça ou você não acredite. E saudade, vontade e amor a gente não prova, a gente sente, a gente sabe, como você já deveria saber. Mas não deixo de viver, não deixo de tentar e não vou me desesperar, enquanto você não decide se vai ou fica e finalmente ignora o mundo e me pede pra ficar, assim como eu quero que você fique, sem previsão de partida.