domingo, 23 de outubro de 2011

Eu faço a cena que eu quiser

     Eu permaneci ali pagando pra ver por quanto tempo você seguiria em frente sem mim. É que a ruptura foi tão brusca e tão sem sentido que fiquei ali parada procurando em qual parte da história sua mão soltou a minha. Resolvi prosseguir e minhas mãos que antes guardavam o calor das suas, agora se tornam gélidas e sem cor, perdem suas digitais e eu já não sei por onde caminhar, não tenho mais teus sinais para me guiar...
     Seria simples e uma questão de tempo até o desapego acontecer. A vida segue em rotina, o mais do mesmo de  conhecer outros caras que não teriam o mesmo perfume, cabelo ou formato de rosto que você. Acontece sempre da mesma forma, eles utilizam as melhores palavras, usam os melhores perfumes, gastam minutos ao telefone, mensagens, gestos, músicas, mas não chegam aos seus pés; se acham na obrigação de cuidar da nova boneca de estante, de fingir gostar, fazem média na frente dos amigos, falam besteiras ao pé do ouvido, fingem romantismo, sinceridade, compreensão e eu fingo achar graça. E quanto mais me vejo ao lado deles, menos me vejo com eles, mais vejo a falta que me faz você, dos braços conhecidos e dos beijos profundos. E é aí que o desapego deixa de ser simples.
     Dizem que amar é cuidar, procurar, ser racional, compreensiva, apoiar. Eu tentei ser perfeita, mas o desgaste me transformou numa bagunça sem fim, nossa culpa e você sabe. Todas as coisas que eu sempre quis te dizer, deitada no seu peito e olhando para o teto (lembra?) ficaram engasgadas, só que hoje em dia não me incomodam mais. Talvez eu ainda te pergunte por que você não sente minha falta, por que você não vem a mim nem que seja para brigar comigo ou dizer que me transformei numa pessoa horrível, assim eu sentiria que você se importa e eu poderia me culpar em paz. Mas nem paz você quis me deixar... Só me deixou a saudade e as recordações.
     Diz, diz pra mim que quando você fechar os olhos, a primeira recordação que vai ter de nós dois vai ser daquele dia em que dançamos e rimos sem parar, que fiz cara feia por causa do calor e você secou minha testa. Que vai lembrar das nossas conversas idiotas, da mania que a gente tinha e trocar nossas coisas e dos "você confia em mim?" que eu nunca respondi, mas no fundo eu sempre confiei, você sabe. Diz que você vai lembrar das 18 ligações que te fiz no carnaval, que vai lembrar da situação embaraçosa que me fez passar, mas que se transformaram em boas lembranças e risadas. Diz que você vai lembrar dos momentos doces e naturais, da manhã ao telefone, do cafuné que só eu sei fazer, da cumplicidade, dos planos e dos abraços. Diz que você vai lembrar de cada minuto bom e vai fazer de mim uma lembrança boa, em que cada momento valeu a pena e você sempre vai guardar consigo. Diz, por que eu quero me eternizar, nem que seja em pensamento, assim como você se eternizou em meu coração.