quinta-feira, 26 de julho de 2012

Você sacou a minha esquizofrenia e maneirou na condução

     Antes fosse um mero frisson. Antes fosse empolgação, fogo de palha, animação. Antes fosse vontade passageira de pegar a mão e seguir em frente, mas quando essa vontade esporádica se prolonga e não cessa, temos um problema. Ou não.
   Você confundiu minha cabeça desde o primeiro momento em que você disse calmamente "sei lá" e eu senti na pele o que aquilo significava: confusão. Eu, que desde o primeiro minuto deveria fugir, permaneci e me deparei com uma vida que não seria capaz de suportar. Era bagunça demais pra minha mania de arrumação, de catalogar emoções e engavetar sentimentos enrolados. Até que eu decidi sistematizar você.
  E foi aí que decidi ir embora. Arrumei minhas coisas e minha complicação e segui em frente até encontrar onde ficar. Desfiz as malas, arrumei as gavetas e descansei com a sensação de que finalmente tudo estava retornando ao seu devido lugar. Mas entre tantas gavetas arrumadas, existia uma bagunça bem ao fundo. Você não consegue lidar com a descomplicação, não é mesmo? Mas aos poucos fui conseguindo me organizar e organizar você, até te guardar como pura lembrança de tempos de guerra.
   As coisas foram se ajeitando e tive sentimento, tive abraço, tive beijo, tive carinho. Eu tive reciprocidade, tive vontade mútua e tive diferenças também, mas tive o que nunca tive com você: certeza. E foi isso que me fez querer mergulhar fundo e sem medo de errar, mesmo sabendo que ainda não havia amor. A gente não consegue arrumar uma bagunça de anos em poucos dias, mas eu sentia que havia uma eternidade pela frente, uma eternidade onde você não tinha espaço mas eu tinha sossego. Uma eternidade onde eu poderia ser quem sempre quis ser para alguém e teria algo que você nunca conseguiu ser: meu.
   Mas a vida dá voltas e, por mais que a gente insista em organizar, arrumar e rotular, certas coisas a gente não explica e não entende. Minha tranquilidade acabou, era apenas um oásis que não resistiu ao meu deserto de sentimentos. E, no fundo, eu só queria voltar a arrumar a bagunça que você fazia. Talvez eu tenha me acostumado à surdez em meio a tanto barulho e talvez só eu te entenda. Talvez só você me complete ou seja a peça-chave pro que sou. Ou ok, talvez eu simplesmente esteja louca, mas quem mais entenderia minhas frases sem sentido?

   Eu ainda escuto o eco do barulho que a gente faz. Eu ainda entendo o que ninguém consegue explicar e só você é capaz de preencher minhas entrelinhas. Mas como lidar com essa ânsia de certezas e paz quando se retorna aos tempos de guerra? Como lidar com essa vontade de calmaria se, no fundo, você é minha doce tormenta? Eu juro que não sei. Só que sei que é difícil lidar com tanta contradição, mas só estando junto a você e totalmente desalinhada é que me sinto em plena paz.