Antes fosse um mero
frisson. Antes fosse empolgação, fogo de palha, animação. Antes fosse vontade
passageira de pegar a mão e seguir em frente, mas quando essa vontade
esporádica se prolonga e não cessa, temos um problema. Ou não.
Você confundiu minha
cabeça desde o primeiro momento em que você disse calmamente "sei lá"
e eu senti na pele o que aquilo significava: confusão. Eu, que desde o primeiro
minuto deveria fugir, permaneci e me deparei com uma vida que não seria capaz
de suportar. Era bagunça demais pra minha mania de arrumação, de catalogar
emoções e engavetar sentimentos enrolados. Até que eu decidi sistematizar você.
E foi aí que decidi ir
embora. Arrumei minhas coisas e minha complicação e segui em frente até
encontrar onde ficar. Desfiz as malas, arrumei as gavetas e descansei com a
sensação de que finalmente tudo estava retornando ao seu devido lugar. Mas
entre tantas gavetas arrumadas, existia uma bagunça bem ao fundo. Você não
consegue lidar com a descomplicação, não é mesmo? Mas aos poucos fui
conseguindo me organizar e organizar você, até te guardar como pura lembrança
de tempos de guerra.
As coisas foram se
ajeitando e tive sentimento, tive abraço, tive beijo, tive carinho. Eu tive
reciprocidade, tive vontade mútua e tive diferenças também, mas tive o que
nunca tive com você: certeza. E foi isso que me fez querer mergulhar fundo e
sem medo de errar, mesmo sabendo que ainda não havia amor. A gente não consegue
arrumar uma bagunça de anos em poucos dias, mas eu sentia que havia uma
eternidade pela frente, uma eternidade onde você não tinha espaço mas eu tinha
sossego. Uma eternidade onde eu poderia ser quem sempre quis ser para alguém e
teria algo que você nunca conseguiu ser: meu.
Mas a vida dá voltas e,
por mais que a gente insista em organizar, arrumar e rotular, certas coisas a
gente não explica e não entende. Minha tranquilidade acabou, era apenas um oásis
que não resistiu ao meu deserto de sentimentos. E, no fundo, eu só queria
voltar a arrumar a bagunça que você fazia. Talvez eu tenha me acostumado à
surdez em meio a tanto barulho e talvez só eu te entenda. Talvez só você me
complete ou seja a peça-chave pro que sou. Ou ok, talvez eu simplesmente esteja
louca, mas quem mais entenderia minhas frases sem sentido?
Eu ainda escuto o eco do
barulho que a gente faz. Eu ainda entendo o que ninguém consegue explicar e só
você é capaz de preencher minhas entrelinhas. Mas como lidar com essa ânsia de
certezas e paz quando se retorna aos tempos de guerra? Como lidar com essa
vontade de calmaria se, no fundo, você é minha doce tormenta? Eu juro que não
sei. Só que sei que é difícil lidar com tanta contradição, mas só estando junto
a você e totalmente desalinhada é que me sinto em plena paz.